Superação a cada dia
Para quem vê de longe, a batalha contra o câncer parece assustadora – e é. O que a maioria das pessoas não sabe é que, mesmo depois que alguém vence a doença, os desafios continuam, por vários motivos. Efeitos colaterais de medicamentos que precisam ser tomados durante anos, insegurança e medo de que a doença volte, fadiga crônica em determinados horários do dia, impacto econômico causado pelo tratamento – que pode ser devastador para o equilíbrio financeiro –, sequelas emocionais causadas pelo abandono do companheiro, da família e dos amigos, já que nem todos têm a sorte de contar com amor incondicional nesse momento tão delicado.
Entre 2014 e 2015, nada menos do que 576 mil brasileiros ouviram do seu médico a frase fatídica: “Você está com câncer”, aponta a Estimativa 2014 — Incidência de Câncer no Brasil, produzida pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). Mas o diagnóstico é apenas o começo de uma árdua batalha, que, segundo quem já passou pela experiência, não termina nunca. A estimativa do Inca é que em 2016 o Brasil deverá registrar outros 596 mil casos de câncer, 295,2 mil entre homens e 300,8 mil entre mulheres.
“Minha vida mudou”, “sinto-me mais insegura”, “infelizmente, muitos amigos e familiares se afastaram”, “não sou mais a mesma”, “não posso falar da doença que sinto uma coisa ruim e me dá vontade de chorar”, “por causa da medicação de controle sinto dor, tenho hemorragias”, “tenho medo de a doença voltar”, “pela manhã estou ótimo, mas à tarde sinto muita fadiga”, “fisicamente, sou outra pessoa”, “às vezes, preciso pegar no tranco”, “a faxina que eu dava em um dia, hoje leva três dias”, “perdi tudo o que tinha”... são frases comuns de se ouvir de quem passou pela turbulência causada pela descoberta e tratamento de um tumor maligno.
CURA
Para atenuar essa dor, o único remédio é o amor. o amor e o carinho são fundamentais durante o tratamento. O amor é cumplicidade, doação e entrega. É admiração e sentir vontade de estar por inteiro com o outro. Quando existe amor de fato, a fé permanece e se estabelece a superação.
Fé acima de tudo Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, pessoas que passaram por um câncer e venceram a doença são chamadas pelos médicos de “sobreviventes”, por, na maioria das vezes, carregarem tanto sequelas físicas quanto psicológicas. Retirada das mamas, impotência, cicatrizes, limitação de movimentos, transtorno de estresse pós-traumático, medo, insegurança, perda de patrimônio e irritabilidade são rastros deixados pelos tumores malignos naqueles que se sentem vencedores simplesmente por continuarem vivos. De acordo com o oncologista Marcos André Portella, estudos mostram que cerca de 25% dos pacientes acabam o tratamento com sequelas físicas e outros 10% com traumas psicológicos, entre eles, fadiga, insônia e depressão.
udo isso afeta não só o paciente, mas a família e os relacionamentos amorosos, já que ele vê a sua vida íntima paralisada, uma vez que todas as atenções estão voltadas para o tratamento e para a cura. Por isso, é preciso um tratamento interdisciplinar, que leve em conta não só os cuidados médicos, mais do que necessários, mas apoio psicológio e nutricional. “Tudo isso ajuda a tratar o paciente como um todo, já que, depois da doença, muitas vezes existe mais um desafio, que é a necessidade de mudar de vida, como deixar o cigarro, perder peso, reduzir o consumo de bebida alcoólica, mudar a alimentação”, observa Portella.