segunda-feira, 23 de setembro de 2019

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Ao longo dos anos, as mudanças de rotina e o crescimento das cidades contribuíram para que as pessoas ficassem cada vez mais ocupadas. Conhecido também como mal do século, o estresse foi um dos problemas que aumentou ao longo dos anos e hoje afeta grande parte da população, sejam jovens ou idosos. Mas é possível evitar agravamentos por conta deste problema.
O estresse também pode ser uma porta de entrada para outros problemas, já que não está apenas associado a fatores externos, como pressão na escola, faculdade ou trabalho. Também está ligado ao modo de como levamos as emoções do dia a dia, seja de alegria, emoção, decepção, tristeza ou medo, e isso varia de pessoa para pessoa.
A Coordenadora Hospitalar do Instituto Nacional de Cardiologia (INC),. Aurora Issa, explica que o estresse é algo complexo, e age de maneiras diferentes no organismo. “Pode ser um estresse agudo, quando a pessoa tem alguma reação ou susto, ou em situações de doença que gera estresse no organismo ou processo mais psicológico e emocional. Também pode ser um estresse contínuo ou crônico ligado a questões do dia a dia, ao acúmulo de preocupações”.
Fabiane Merotto é enfermeira e trabalhou por 10 anos em uma UTI adulto de um Hospital em Ponta Grossa (PR). Nos últimos três meses, antes de pedir desligamento, também coordenava uma equipe de captação de órgãos e tecidos para transplante. Foi nessa época que começou a sentir os primeiros sinais do estresse, embora não soubesse que estava com problema. “Eu não tive a habilidade de identificar. O motivo pelo qual saí do trabalho não foi porque eu estava doente. Eu comecei a ser muito crítica, achava que eu não estava mais conseguindo ajudar as pessoas, que eu era um fracasso profissional, então não poderia continuar naquela unidade, naquele setor”, lembra.
Ainda em 2007, depois de sair do Hospital, começou a lecionar. Foi quando o diagnóstico de depressão decorrente do estresse apareceu. “Nos primeiros meses de atuação no nível superior já comecei a ter crise de pânico e de choro. Foi muito rápido, quase que imediatamente depois da minha saída do Hospital”. A situação se agravou mais ainda quando ficou 14 dias sem comer e sem dormir. Acabou sendo internada.
O caso de Fabiane parece extremo. Vimos que perceber situações de risco decorrentes do estresse não é tão fácil. A Coordenadora Hospitalar do INC explica que o comportamento individual é um fator importante. “É óbvio que reações de decepção e preocupação, por exemplo, fazem parte da vida e do dia a dia de cada um. Mas os indivíduos reagem de forma diferente. No geral isso está relacionado à personalidade”.
Uma pessoa sob estresse adquire hábitos ruins, como não ter cuidado adequado com a saúde, alimentação, sono , além de não fazer exercício. E estes hábitos, muitas vezes associados ao estresse, podem causar problemas cardiovasculares, principalmente os problemas relacionados à doença aterosclerótica (acúmulo de placas de colesterol nas paredes das artérias que causa a obstrução do fluxo sanguíneo). Queda de cabelo, doenças na pele e gastrite também são comuns em situações de estresse.
Em alguns casos, podem aparecer alguns sintomas, como suor excessivo, tontura e algumas dores.
Diagnóstico e tratamento
Dados da Pesquisa Stress no Brasil, realizada pelo Instituto de Psicologia e Controle do Stress, mostra que 52,28% dos entrevistados dizem ter ou já terem recebido o diagnóstico de estresse. O número de pessoas é alto, mas ainda existem pessoas que não sabem que estão passando pelo problema. Mesmo com as dificuldades para perceber a situação, é essencial identificar o quadro. “A primeira coisa depois de identificado que a pessoa possui este tipo de comportamento é procurar ajuda psicológica. Mudar alguns hábitos no dia a dia também pode ajudar tanto na diminuição do estresse quanto os efeitos maléficos que ele causa”, explica Dra. Aurora Issa, Coordenadora Hospitalar do INC.
Fabiane Merotto começou a tratar a doença logo em seguida com medicação, mas foi no artesanato que encontrou um hobby para diminuir o estresse do dia a dia. “Naquela época eu tomava até sete remédios diferentes. Hoje eu tomo uma medicação bem fraquinha apenas por controle. Uma coisa que me ajudou muito foi o artesanato”, conta.
Para a enfermeira, que voltou a trabalhar em Hospital, o artesanato foi uma opção para esquecer os problemas do dia a dia, mas não existe um tratamento específico para o estresse, e para cada indivíduo a melhora pode aparecer de lugares diferentes. “O melhor tipo de tratamento é ter uma identificação do profissional e uma conscientização do paciente a respeito da associação do nível de estresse com problemas de saúde. Existe o apoio psicológico, e também medicações específicas para isso”, alerta a Coordenadora Hospitalar.
Aurora também recomenda que as pessoas busquem atividades que as façam se sentir bem e mais tranquilas: “Da mesma forma que a resposta a termos de estresse é individual, as medidas são individuais também”.
Aline Czezacki, para o Blog da Saúde

terça-feira, 17 de setembro de 2019

SETEMBRO AMARELO

No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo e é a segunda principal causa de morte entre indivíduos com faixa etária entre 15 e 29 anos. Além disso, um estudo realizado em 2002, por José Manoel Bertolote, pesquisador na área, afirma que 96,8% dos casos estão relacionados a transtornos mentais tratados indevidamente ou não tratados de forma alguma. 

Desde 2015, foi criada a campanha do ‘Setembro Amarelo’ pela parceria entre o Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O intuito é criar um período no ano em que a sociedade possa debater, ter conhecimento sobre o tema e possa alertar a população sobre a prevenção do ato. 

Também de acordo com a OMS, 90% dos suicídios podem ser prevenidos.

Segundo a psicóloga Monick Brito, bipolaridade, ansiedade, depressão são alguns dos transtornos que mais contribuem para o suícidio, a especialista revela algumas das prevenções. “O principal é a indicação de um acompanhamento psicoterápico com uma abordagem que atenda a necessidade do indivíduo, a participação de grupos de ajuda e atividades do cotidiano também é uma forma de incentivo para ocupar a mente”. Além disso, Monick afirma que a prevenção é utilizar maneiras simples de estimular o indivíduo não cometer o suicídio. “Não podemos falar sobre prevenção esperando que seja oferecido algo extraordinário, que vá mudar a vida do indivíduo, porque o saudável é que ele encontre conforto e bem-estar no seu padrão de vida, com sua rotina”. 

Fundado há mais de 50 anos, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma das ONGs voltadas ao tema mais antigas do Brasil. A associação filantrópica atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio por meio de e-mail, telefone (188), chat ou pessoalmente. O CVV funciona 24h e obtêm 110 postos pelo Brasil com mais de 2400 voluntários. 

No Recife, Eliene Soares, 51, já é voluntária há 10 anos. “É um trabalho muito especial ser voluntária dO CVV. Eu tenho a oportunidade de melhorar todo dia, ajudando pessoa que precisam conversar, desabafar e muitas vezes elas não têm com quem fazer isso. É ter tolerância, paciência, aceitação e abertura para receber e ouvir quem pensa diferente”, afirma Eliene.  

Garantindo o sigilo e anonimato de quem entra em contato com o Centro, em 2018 o CVV Brasil recebeu em torno de 3 milhões de ligações. Foi um aumento de quase 50% em relação a 2017. Já no Recife, eles recebem em média 6 mil ligações por mês. Neste mês de setembro, o número geralmente dobra. 

Roda de conversa debaterá importância do Setembro Amarelo 

No dia 18 de setembro, o Teatro Beberibe sediará uma roda de conversa devido ao Setembro Amarelo. Organizado pelo projeto Mundo do Lua, o debate tem o intuito de discutir a importância de conversar sobre depressão e suicídio sem barreiras, desmistificando ambos os temas. O evento será às 16h e as inscrições podem ser feitas online. 

O Mundo do Lua é um projeto que oferece diversos serviços para ajudar pessoas com depressão, transtornos mentais ou apenas pessoas que sintam a necessidade de serem ajudadas. O projeto foi criado em 2017 por Sibely Fernanda, que perdeu o filho em 2015 e se viu na obrigação de criar um projeto que reduza a taxa de suicídios em Pernambuco.  

O grupo oferece psicólogos voluntários para atuar em algumas escolas estaduais e municipais de Paulista, pois a presença dos profissionais é rara. “Eu senti na pele o que muitos brasileiros sentem, que é querer ter dinheiro para pagar uma consulta para o seu filho e não ter, querer ajuda psicológica ou psiquiátrica e não ter”, diz Sibely sobre a iniciativa.  

Já no âmbito cultural, foi criado o MaracaLua, maracatu criado com o objetivo de tirar os jovens da comunidade de Paratibe da marginalização e oferecer um entretenimento diferente dos que são disponibilizados na área. Além disso, também promovem palestras em escolas, eventos, rodas de conversas, para levar esse assunto ao conhecimento de todos.