Ao longo dos anos, as mudanças de rotina e o crescimento das cidades contribuíram para que as pessoas ficassem cada vez mais ocupadas. Conhecido também como mal do século, o estresse foi um dos problemas que aumentou ao longo dos anos e hoje afeta grande parte da população, sejam jovens ou idosos. Mas é possível evitar agravamentos por conta deste problema.
O estresse também pode ser uma porta de entrada para outros problemas, já que não está apenas associado a fatores externos, como pressão na escola, faculdade ou trabalho. Também está ligado ao modo de como levamos as emoções do dia a dia, seja de alegria, emoção, decepção, tristeza ou medo, e isso varia de pessoa para pessoa.
A Coordenadora Hospitalar do Instituto Nacional de Cardiologia (INC),. Aurora Issa, explica que o estresse é algo complexo, e age de maneiras diferentes no organismo. “Pode ser um estresse agudo, quando a pessoa tem alguma reação ou susto, ou em situações de doença que gera estresse no organismo ou processo mais psicológico e emocional. Também pode ser um estresse contínuo ou crônico ligado a questões do dia a dia, ao acúmulo de preocupações”.
Fabiane Merotto é enfermeira e trabalhou por 10 anos em uma UTI adulto de um Hospital em Ponta Grossa (PR). Nos últimos três meses, antes de pedir desligamento, também coordenava uma equipe de captação de órgãos e tecidos para transplante. Foi nessa época que começou a sentir os primeiros sinais do estresse, embora não soubesse que estava com problema. “Eu não tive a habilidade de identificar. O motivo pelo qual saí do trabalho não foi porque eu estava doente. Eu comecei a ser muito crítica, achava que eu não estava mais conseguindo ajudar as pessoas, que eu era um fracasso profissional, então não poderia continuar naquela unidade, naquele setor”, lembra.
Ainda em 2007, depois de sair do Hospital, começou a lecionar. Foi quando o diagnóstico de depressão decorrente do estresse apareceu. “Nos primeiros meses de atuação no nível superior já comecei a ter crise de pânico e de choro. Foi muito rápido, quase que imediatamente depois da minha saída do Hospital”. A situação se agravou mais ainda quando ficou 14 dias sem comer e sem dormir. Acabou sendo internada.
O caso de Fabiane parece extremo. Vimos que perceber situações de risco decorrentes do estresse não é tão fácil. A Coordenadora Hospitalar do INC explica que o comportamento individual é um fator importante. “É óbvio que reações de decepção e preocupação, por exemplo, fazem parte da vida e do dia a dia de cada um. Mas os indivíduos reagem de forma diferente. No geral isso está relacionado à personalidade”.
Uma pessoa sob estresse adquire hábitos ruins, como não ter cuidado adequado com a saúde, alimentação, sono , além de não fazer exercício. E estes hábitos, muitas vezes associados ao estresse, podem causar problemas cardiovasculares, principalmente os problemas relacionados à doença aterosclerótica (acúmulo de placas de colesterol nas paredes das artérias que causa a obstrução do fluxo sanguíneo). Queda de cabelo, doenças na pele e gastrite também são comuns em situações de estresse.
Em alguns casos, podem aparecer alguns sintomas, como suor excessivo, tontura e algumas dores.
Diagnóstico e tratamento
Dados da Pesquisa Stress no Brasil, realizada pelo Instituto de Psicologia e Controle do Stress, mostra que 52,28% dos entrevistados dizem ter ou já terem recebido o diagnóstico de estresse. O número de pessoas é alto, mas ainda existem pessoas que não sabem que estão passando pelo problema. Mesmo com as dificuldades para perceber a situação, é essencial identificar o quadro. “A primeira coisa depois de identificado que a pessoa possui este tipo de comportamento é procurar ajuda psicológica. Mudar alguns hábitos no dia a dia também pode ajudar tanto na diminuição do estresse quanto os efeitos maléficos que ele causa”, explica Dra. Aurora Issa, Coordenadora Hospitalar do INC.
Fabiane Merotto começou a tratar a doença logo em seguida com medicação, mas foi no artesanato que encontrou um hobby para diminuir o estresse do dia a dia. “Naquela época eu tomava até sete remédios diferentes. Hoje eu tomo uma medicação bem fraquinha apenas por controle. Uma coisa que me ajudou muito foi o artesanato”, conta.
Para a enfermeira, que voltou a trabalhar em Hospital, o artesanato foi uma opção para esquecer os problemas do dia a dia, mas não existe um tratamento específico para o estresse, e para cada indivíduo a melhora pode aparecer de lugares diferentes. “O melhor tipo de tratamento é ter uma identificação do profissional e uma conscientização do paciente a respeito da associação do nível de estresse com problemas de saúde. Existe o apoio psicológico, e também medicações específicas para isso”, alerta a Coordenadora Hospitalar.
Aurora também recomenda que as pessoas busquem atividades que as façam se sentir bem e mais tranquilas: “Da mesma forma que a resposta a termos de estresse é individual, as medidas são individuais também”.
Aline Czezacki, para o Blog da Saúde