Bastante gente já ouviu falar sobre lúpus, mas poucas pessoas conhecem de fato a doença. Prova disso é que existem muitos mitos e dúvidas em torno do assunto. Por exemplo, esta é uma doença que acomete somente as mulheres? É contagiosa? Quais sintomas apresenta? Tem cura? Todas essas e outras questões serão esclarecidas abaixo.
O que é lúpus?
Evandro Mendes Klumb, coordenador da Comissão de Lúpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) e presidente da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro, destaca que lúpus eritematoso sistêmico (LES), ou simplesmente lúpus, é uma doença inflamatória, autoimune e crônica.
Abaixo você conhece melhor os principais fatos sobre esta doença:
1. A principal característica da doença é a intermitência (intercalação) de suas manifestações clínicas.
Klumb explica que a pessoa com lúpus tem, habitualmente, fases nas quais apresenta sintomas, chamados pelos médicos de “períodos de atividade” e, outros momentos, nos quais fica sem manifestações da doença, chamado de período de “remissão”.
Exatamente por isso, “ainda que a pessoa não apresente sintoma algum, não é possível afirmar que a doença esteja ‘curada’, pois as alterações imunológicas continuam presentes e podem determinar o retorno dos sintomas outra vez”, destaca o médico.
“É necessário manter o controle médico de forma contínua com o uso de um ou mais medicamentos, para a maioria das pessoas portadoras de lúpus, que ajudam a manter a doença sob controle”, acrescenta o especialista.
2. Lúpus é uma doença inflamatória e autoimune.
Evandro Klumb esclarece que o lúpus pode apresentar sintomas em vários órgãos, sendo esses decorrentes de uma inflamação, ocasionada por um desequilíbrio no sistema imunológico da pessoa, fazendo com que ela produza uma quantidade aumentada de anticorpos.
“São exatamente esses anticorpos que têm a capacidade de reagir contra proteínas do nosso próprio organismo, que estabelecem o conceito de doença autoimune”, explica o especialista da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
3. Lúpus depende de herança genética mas está relacionado a fatores ambientais.
Vale ressaltar que o sistema imune é desenhado para proteger o corpo humano de bactérias, vírus e outros patógenos. No caso das doenças autoimunes, de forma geral, ele identifica partes do próprio corpo como patógenos e as ataca.
Mas não é possível definir uma única causa para este “engano” inicial no sistema imune. Acredita-se na combinação de tendências genéticas com fatores ambientais – entre eles, não só a irradiação ultravioleta, mas também o tabaco, conforme destaca o especialista Klumb.
4. Existem dois tipos de lúpus: sistêmico e cutâneo.
Evandro Klumb destaca que existem dois tipos de lúpus: um é o sistêmico, característico por apresentar sintomas em vários órgãos, como pele, pulmões, coração, rins, além de articulações e outros, podendo ter um curso grave ou não. “Nesta forma sistêmica, também são comuns sintomas gerais com cansaço, desânimo, anemia, febre baixa e emagrecimento”, destaca.
O segundo tipo, ainda de acordo com o médico, é uma doença que só apresenta sintomas na pele, ou seja, não há qualquer manifestação nos outros órgãos e é denominado lúpus cutâneo.
5. O lúpus pode apresentar sintomas bastante variados.
Evandro Klumb reforça que o lúpus eritematoso sistêmico (LES) desencadeia sintomas que podem surgir em diversos órgãos, de forma lenta e progressiva (meses) ou mais rapidamente (em semanas) e variam com fases de atividade e de remissão.
O reumatologista destaca que, nas fases iniciais do LES, principalmente, os sintomas que mais incomodam são:
- Desânimo;
- Cansaço;
- Perda de apetite.
Ainda de acordo com Klumb, a maioria das pessoas com LES também pode apresentar, em algum momento:
- Dor nas juntas, às vezes também com inchaço (artrite).
Além disso, de forma geral, conforme destaca o reumatologista Klumb, pelo menos 50% dos portadores de lúpus terá, em algum momento da doença:
- Inflamação na pleura (membrana que recobre os pulmões) ou no pericárdio (membrana que recobre o coração);
- Inflamação nos rins, que não determina dor, necessariamente, mas sim a perda de proteínas na urina, inchaço nas pernas e no rosto, hipertensão arterial e, nos casos mais graves, insuficiência renal com necessidade de hemodiálise.
Já no caso do lúpus cutâneo, os sintomas ocorrem somente na pele. Pode ocorrer, de forma geral:
- Hipersensibilidade à luz (vermelhidão/ inflamação da pele nas partes expostas à luz, como rosto e colo);
- Manchas;
- Perda de cabelo.
O especialista Klumb ressalta que qualquer órgão ou tecido pode ser envolvido pela inflamação que ocorre no lúpus, mas alguns são particularmente preocupantes. “Na pele do rosto, por exemplo, a pessoa pode ficar com marcas e, por isso, estigmatizada, o que determina diminuição da autoestima, principalmente para as mulheres”, diz.
6. O lúpus é mais prevalente entre as mulheres do que entre os homens.
Evandro Klumb explica que a doença pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, raça e sexo, porém as mulheres são muito mais acometidas, principalmente, na faixa etária entre 20 e 45 anos.
Ainda de acordo com o médico, estima-se que 120 mil a 250 mil pessoas tenham Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) no Brasil. “1 a cada 1.000 mulheres, no Brasil, são portadoras de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). No Rio de Janeiro, estima-se que a doença afeta entre 8 a 14 mil pessoas. Em São Paulo, os especialistas estimam a existência de 12 a 18 mil portadoras de LES”, acrescenta Klumb.
7. O tratamento do lúpus varia de acordo com a gravidade da doença.
O diagnóstico do LES é feito pelo médico reumatologista que reconhece os sintomas característicos da doença, com associação a exames que incluem hemograma, avaliação dos rins e pesquisa dos distúrbios imunológicos próprios da doença.
O tratamento do portador de lúpus, de acordo com Evandro Klumb, depende do tipo de manifestação apresentada e deve ser individualizado. “O objetivo é reequilibrar o sistema imunológico, além de controlar dor e inflamação. E o tratamento começa pela conscientização do paciente”, explica.
A intensidade com que se busca esse reequilíbrio (do sistema imunológico) e a quantidade de medicamentos necessários para esse controle, depende fundamentalmente da gravidade e extensão da doença, de acordo com o médico:
Casos iniciais e mais leves: pode-se usar apenas a cloroquina ou hidroxicloroquina (que são imunomoduladores) e analgésicos.
Casos mais avançados ou mais graves: pode-se fazer necessário o emprego de corticosteroides (cortisona), imunossupressores e, mais modernamente, também alguns medicamentos denominados de agentes biológicos como terapia ‘míssel’ ou terapia ‘alvo’.
O especialista acrescenta que algumas medidas são fundamentais para o reequilíbrio imunológico do portador de lúpus:
- Medidas de proteção contra a claridade ou irradiação solar (com o uso de fotoprotetores),
- Suspensão do tabagismo,
- Afastamento de condições de estresse,
- Alimentação balanceada,
- Repouso adequado,
- Atividade física regular.
8. Ainda não é possível falar em cura do lúpus, mas em controle da doença.
Na atualidade, ainda não é possível falar em cura do lúpus, mas em controle da doença, destaca Klumb. “Existem inúmeras pessoas com LES que usam apenas cloroquina (medicamento) e medidas gerais com um bom controle da doença”, diz.
No entanto, ressalta o médico, a maioria irá precisar de um acompanhamento regular, a cada três ou seis meses, com um reumatologista. “Pois, em caso de uma reativação dos sintomas da doença, esses devem ser controlados logo no início, permitindo que a pessoa rapidamente reequilibre o seu sistema imunológico e recupere sua saúde”, explica.
9. A maioria das pessoas com lúpus levam uma vida normal.
“Hoje, podemos afirmar que a maioria das pessoas com lúpus leva uma vida relativamente normal, ainda que essa normalidade seja flutuante e dependa de um acompanhamento regular com o reumatologista”, comenta o especialista Klumb.
10. Lúpus não é uma doença contagiosa e nem hereditária.
Embora muita gente tenha dúvidas sobre isso, é mito dizer que o lúpus é uma doença contagiosa. Ela é uma doença inflamatória, autoimune e crônica.
No que diz respeito à hereditariedade, este é outro mito. Especialistas acreditam na predisposição genética, mas não na hereditariedade – ou seja, não é porque a mãe de uma pessoa tem a doença, por exemplo, que ela também terá.
Outro mito é dizer que a paciente com lúpus nunca poderá ter filhos. Embora a gravidez não seja indicada enquanto a doença estiver em atividade, a mulher poderá, sim, engravidar, desde que com planejamento e autorização do médico.
Por fim, vale destacar que é consenso entre os especialistas da Sociedade Brasileira de Reumatologia(SBR) que cada vez mais surgem novos conhecimentos acerca dos mecanismos envolvidos no desenvolvimento do Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). Com isso, surgem também novos medicamentos, com mais eficácia e menos efeitos adversos.